
08/08/21
seu
diário
me
captura
crio
o meu
próprio
09/08/21
me alimento lentamente
agradeço a oportunidade
de cada mordida, o que eu
como não vem do lixo
10/08/21
todo político
quando eleito
deveria receber
suas palavras
Carolina
11/08/21
quem roubou
seus cadernos?
quase entro
na página
para caminhar
descalça ao seu
lado e
resgatar
as páginas
a vida
12/08/21
cada passagem
do seu despejo
quarto feito
de angústia
ansiedade
tristeza
.
quantos brasil’s
de Carolina’s
existem hoje?
13/08/21
desde então
olho com mais
silêncio para dentro
do armário e da geladeira
14/08/21
almocei lendo
entre uma garfada
uma frase
mal engolida
tive indigestão
por vergonha
da humanidade
15/08/21
é domingo
arrasto as palavras
deste livro
para todos os
cantos da casa
16/08/21
“muito bem, Carolina”
você pediu para
te parabenizar
assim, desse jeito,
desde então
todos os dias
me pego dizendo
as mesmas palavras:
muito bem, Carolina
por rexist-IR...
17/08/21
encontro farelo
de tapioca miúdo
no livro, me aperta
o peito pensando
alguém guarda
essas migalhas
e as chamam refeição
18/08/21
converso sobre
questões sociais
com quem se importa
com a sociedade
impossível não
recomendar para entrar
no seu quarto de despejo
20/08/21
na minha casa
nunca faltou comida
isso se chama
privilégio
21/08/21
hoje senti desejo
de lavar seus pés,
Carolina
22/08/21
me falta fôlego
mas eu
r e s p i r o
e sigo avassaladora
por suas palavras
23/08/21
Carolina Maria
você fez política e poesia
se você se candidatasse
meu voto seria seu
assim como meu coração
24/08/21
escolho palavras suas para bordar
colocar na entrada da sala
é logo na porta de entrada
que todos devem
te respeitar
25/08/21
madrugada
penso em Carolina
no quarto despejo
você está em
todos os lugares
que invasão foi
essa em meu ser?
.
póstumo
sigo fiel às suas palavras
estou na metade
do seu quarto
já me encontro
outra